Nos estralos da madeira da velha casa, mãezinha caminhava até a cozinha preparava o café da manhã no fogão de lenha. Do saco de pano saia o cheirinho de café forte que meu pai cansado e velhinho plantava e colhia. Eu e meus irmãos levantávamos, colocávamos a calça surrada e a camisa rasgada. Lavávamos o rosto na água fria de dentro de uma bacia, sabão caseiro limpava e despertava o sono para mais um dia. Aos seis anos de idade eu pegava a enxada e todos juntos caminhávamos cantando até a roça onde meu pai plantava arroz, feijão, mandioca, milho, café, trigo. Às onze horas da manhã mamãe juntava a sacola onde tinha os restos de pães e seguia para a casa para preparar o nosso almoço. Ao meio dia largávamos as enxadas e íamos almoçar, sentávamos a mesa e respeitosamente fazíamos uma oração. Eu lembro de que meu pai abaixava a cabeça e agradecia a Deus pelo alimento... Não entendia o porquê dessa oração, era pequena demais para entender o quanto era difícil trabalhar e sustentar toda a família. Após comer, mamãe pegava a chaleira de cima do fogão de lenha, levava até ao quarto e despejava a água quente em uma bacia grande onde nela todos nós tomávamos banho. Sacolinha nas mãos e pés no chão caminhávamos por três quilômetros até a escolinha. No verão ou no inverno, com sol ou com chuva não gazeávamos um dia se quer de aula. Nem eu e nenhum dos meus irmãos tínhamos sapatos, SAPATOS??? Nem sabíamos o que era isso, quantos dias meus pés congelavam, e para aquecê-los colocava perto do fogão a lenha. Antes de dormir todos lavavam os pés, cortados e machucados na mesma bacia e para dormir mamãe nos aconchegava todos juntinhos em um só quarto com uma coberta de pena e todos feito um coral dávamos a benção e mamãe cansada respondia:
- Deus abençoe vocês meus filhos!
Aos treze anos, numa tarde dançante conheci um homem galanteador, o nosso município, ele era lindo de olhos verdes e cabelos encaracolados, numa dança me convidou e no balanço me conquistou! Robou-me de meus pais, com quatorze anos me casei e com quinze engravidei. Nesse tempo não tínhamos carro, moto e onde vivíamos não passava ônibus. ''Irineu'' meu marido me levava com dores de parto da primeira filha em cima de uma carroça até a parteira. Lá ela me deitava no chão de palha e com água quente lavava as mãos e se preparava sempre com uma pequena oração. E nos braços nascia a primeira bela menina e com choro avisava ao mundo sua chegada. Voltávamos no dia seguinte, na mesma carroça... Ainda com dores, mas muito feliz. Quando Dilva estava com um ano e oito meses, descobri com enjôos e dores no peito minha segunda gravidez. E com os mesmos costumes veio ao mundo a segunda menina Dilma que com pressa nasceu de oito meses. Depois de um ano veio o terceiro , desta vez um menino lindo chamado Dílson . Quando ele completou dois anos e meio já em meus braços recém-nascida minha quarta filha Jucélia.
Era um dia lindo, Dilva, Dilma e Dilson brincavam no quintal com uma vassoura e pequenos pedaços de pau... Eu no fogão preparava um chá de erva doce para Jucélia, e todo eufórico Dilsinho entrou pela casa com uma vassoura nos meios das pernas imaginando seu cavalinho. Pediu-me um pouquinho de chá e respondi com pressa:
- Mamãe espere esfriar para dar para o bebê. Depois que terminar eu te chamo...
Ele sorriu e então saiu, para minha infelicidade. Minutos depois as crianças gritavam enlouquecidas em baixo da casa. Saí correndo, puxei Dilva e Dilma que por pouco não colocou a mão sobre o irmão já morrendo eletrocutado. Que dor, que sofrimento! Que perda! De joelhos no chão eu olhava para o céu e blasfemava contra Deus...
- Porque senhor? Por quê?
Cinco anos mais tarde tive a quinta filha Débora, o bebê mais lindo de todos. Três anos se passaram e mais uma filha estava por vir, e minha esperança de ter o ultimo meninos veio quando a parteira anunciou:
- Outra menina mamãe!
Ao chegar agora do Hospital na ausência de meu marido que já estava tão acostumado em ter filhos coloquei Tatiana deitada no sofá. Ao se deparar com a filha, egocêntrico soltou uma frase que me deixou completamente triste:
- Nossa, parece um curisco de assar forma, de tão feia!
Aos trinta e três anos fiquei viúva, meu marido faleceu no Domingo de 1983 aos 40 anos de ataque fulminante...
Meus filhos se casaram, procriaram... E hoje sou uma mulher de 61 anos com 11 netos e 2 bisnetos ... E levo comigo uma grande lição de Vida ...
Obs: É uma história verídica
Bibiana Chiesa.
Cara ficou lindo *-*
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